terça-feira, 27 de janeiro de 2015

De Mim Para Ana

Ana, você me faz falta.
Assim como meus ossos deveriam aparecer, e eu odeio falhar até pra isso.
Queria ser magra, queria me perder dentro de você, me perder na sua doença, ser parte dela.
Meu corpo não colabora, e tenho tudo pra ser perfeita pra você.
Mas eles não deixam, ele não me aceitam, e eles tem tudo que mais odeiam em mãos, e por isso me amarram e me torturam com tudo aquilo em excesso.
Eu não posso dizer nada, não posso rejeitar a comida porque fui adestrada, porque me  ensinaram que dizer não é pedir que as consequências perturbadoras me arrasem.
E os números dobram e crescem sem parar na balança, e quando o sangue escorre pelas minhas pernas (eles não assediariam minhas pernas) tenho até esperança que alguma grama saia junto com essa infelicidade que me assola noite e dia.
Você me deixaria perfeita, entraria em mim perfeitamente e me olhar no espelho não me causaria tanto desgosto.
Mas quando enfim toda aquela porcaria reinicia, e o descanso que não aconteceu acaba, eu posso controlar parte do meu dia, os números revelam que você é minha única amiga, a única que me protege e me deixa buscar a perfeição em paz, pelo menos na única coisa que posso fazer direito.
Tudo tem um preço, e essa é a única moeda que posso pagar, talvez nada aconteça e tudo dê certo, eu não me incomodo em arriscar.
Eu falho as vezes, e eu me odeio, me odeio com todas as forças, por trair a mim mesma, e me estragar com cada caloria quem se insere sem parar em mim.                 
Eu confesso que tenho medo da sua companheira, tenho medo que meu estômago venha junto com o que eu tento puxar incansavelmente até me afogar na Mia e perder o ar depois de expulsar tudo que consegui, mas esse é o castigo pela minha fraqueza, por  ser tão fraca e perder o controle.
Mas as vezes parece que você se esquece de mim e quando tento ver os números de novo, eles continuam os mesmo. Por que você faz isso comigo?
Eu luto sem parar, e esses números não somem, eles seguem insistentes sobre os mesmos algarismos.
Perdi a confiança deles e meu desempenho caiu em tudo, mas esses números não caem e eu sofro, eu sofro demais a ponto de querer morrer, de desistir.

Mas eu sei, eu sei.
Uma hora vou nascer leve como uma borboletinha, só preciso confiar em você.